
28/01/2020 às 13h28
[caption id="" align="alignnone" width="686"] Artistas responsáveis pela exposição e suas curadoras (Fabiana segura o telefone em que Fran aparece por vídeo).[/caption]
A Galeria de Arte da Unidade Sesc Centro recebe a Exposição Deslimites, fruto de um olhar sensível associado a uma prática artística e fotográfica, voltada para o Pinheiro e o Mutange, dois dos bairros afetados pela exploração de sal-gema, em Maceió. A abertura da exposição aconteceu na sexta (24) e o público poderá conferir os trabalhos até o dia 13 de março. Os artistas Amanda Bambu, Dafhine Alves, Iris Dani, Josian Paulino, Karol Corado, Marina Milito, Sandra Januario e Thalita Melo escolheram explorar suas perspectivas sobre as marcas dos bairros.
A Exposição Deslimites é resultado da oficina de fotografia ministrada pelos artistas visuais Fran Favero e Leandro Pereira da Costa, durante a exposição Territórios e Fronteiras, realizada pelo Sesc, em agosto de 2019. Segundo a analista em artes visuais do Sesc Alagoas, Fabiana Xavier, a exposição não havia sido planejada como conclusão da atividade, mas diante do surpreendente resultado da oficina foi decidido que a mostra entraria na programação da Galeria.
A curadoria das obras é assinada por Fran Favero e Fabiana. De acordo com a analista em artes visuais do Sesc, o sucesso da Exposição Deslimites tem total relação com o método de condução da oficina de fotografia e a forma como as questões foram colocadas por parte dos participantes. “O Leandro e a Fran dividiram a oficina e foram complementares. Fran falou bastante sobre o processo criativo dela enquanto artista e fotógrafa. Ela trouxe muitas referências para turma. O Leandro contribui com referências teóricas para os nossos artistas. A metodologia foi essa, mas eu acho que o que contou mais foi o olhar afetivo para o outro, que todos se preocuparam em ter”, afirma Fabiana.
[caption id="attachment_21678" align="alignnone" width="662"] Iris Dani posa ao lado da instalação de sua fotografia[/caption]
Uma das artistas da exposição, Íris Dani, que é moradora do Pinheiro, foi quem acabou propondo o tema de uma maneira muito natural. A oficina aconteceu no período em que Íris desocupava o apartamento de seus pais. O assunto foi colocado como uma espécie de desabafo do dia-a-dia, quando os outros integrantes se interessaram pela história e escolheram, juntos, tê-la como tema para as fotografias no trabalho de campo.
Íris lembra que a turma conversou sobre outras pessoas que estavam deixando suas casas com as memórias de uma vida inteira que seriam apagadas e a partir disso foi decidido que as rachaduras tão presentes e com um significado tão forte seriam o foco do trabalho. “Sou grata ao Sesc por ter trazido a oficina que permitiu a realização dessa exposição. Conseguimos pegar um pouco do sentimento dos moradores dos bairros, a visão das pessoas que não sabiam dessa realidade, o impacto que elas tiveram. Tudo isso de uma forma artística, mas que mostra a realidade. E todo mundo que vier poderá sentir um pouco do que quem mora lá passa”, relata.
[caption id="attachment_21679" align="alignnone" width="653"] Arnaldo Manual dos Santos posa na entrada da Galeria[/caption]
A oficina de fotografia aconteceu em cinco encontros na Unidade Sesc Centro e teve um dia de saída fotográfica. Em um sábado, depois de explorar as rachaduras no Pinheiro, os fotógrafos seguiram para o bairro Mutange, onde as pessoas ainda não tinham deixado suas casas para conversar com os moradores que lidam com o medo do risco de desabamento. No local, os artistas continuaram com a captura intuitiva de imagens e encontraram Arnaldo Manuel dos Santos, presidente da Associação dos Moradores do bairro, que prestigiou a abertura da exposição.
“O sentimento hoje já é de saudade porque daqui a pouco tempo já não vai existir residências. Vivo naquela comunidade há 66 anos. Cheguei em Maceió com 1 ano de idade. Agradeço a coordenação que fez essa exposição em nome de toda a minha comunidade. Estamos saindo, mas a vida continua”, declarou em lágrimas Arnaldo.
[caption id="attachment_21676" align="alignnone" width="650"] José Roberto dos Santos posa ao lado de seu registro feito por Josian Paulino[/caption]
Quem também marcou presença na exposição foi José Roberto dos Santos, um dos personagens retratados nas obras. Ele se mostrou muito surpreso com a exposição e afirmou que, apesar da tragédia, se sente muito emocionado e sabe que as obras são mais uma maneira de deixar o acontecimento documentado na história. “Queria que a gente saísse com dignidade, mas até a agora a gente não sabe para onde vai. Eu não quero mais ficar aqui em Maceió, vou embora para o interior, mas me dói porque a gente tem uma história no Mutange. Muitos amigos vão se separar. Vai cada um pra um lado”, desabafa.
[caption id="attachment_21677" align="alignnone" width="665"] Poesia de José Roberto[/caption]
José Roberto ainda mostrou seu lado artístico e recitou em público uma poesia que entrega toda a sua emoção. O revelado poeta explicou que quis escrever os versos para deixar como registro para as próximas gerações. “Quero que nossos netos e bisnetos passem lá e digam: aqui era uma comunidade. Mesmo que já não exista mais nada”, explica o homem antes de fazer uma convocação aos que ele chamou de “poetas profissionais” para registrarem suas impressões em poesias e pensarem na possibilidade de produzir um livro coletivo.
Serviço
O quê? Exposição Deslimites
Onde? Galeria de Artes do Sesc Centro
Quando? Até o dia 13 de Março, de segunda a sexta, entre 12h e 18h
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